Então pra fugir um pouco dessa tendência, este primeiro artigo vai resenhar bandas e álbuns com uma sonoridade mais "raiz". Você já deve ter ouvido falar (ou não) da onda retrô-revival-vintage-clássica-etc que está acontecendo atualmente, que consiste em várias bandas novas resgatando a sonoridade dos anos 60/70, que trazendo o Rock classudo para os novos tempos, e conseguindo a façanha de não soarem datadas ou ultrapassadas, nem de serem consideradas cópias mal-feitas que só querem pagar de "vintage". Pra falar a verdade, este autor nem sabe ao certo se existe mesmo uma onda retrô acontecendo. É possível que sempre tenham existido bandas "retrô" dentro do underground, e que só agora as gravadoras e a mídia especializada tenha prestado atenção e resolvido propagandeá-las. Ou então realmente surgiu um maior número de bandas retrô, em comparação aos últimos anos... Enfim, se essa onda é fabricada ou não, o que importa é que os estão aí pra serem curtidos e apreciados.
Apreciados principalmente por VOCÊ! VOCÊ aí, que tá acostumado ao metáu pezado, VOCÊ que, quando perguntam que bandas de ROCK você gosta, você sempre fala Metallica, Iron Maiden e SlipKnot! VOCÊ que já tá acostumado a pedal duplo e gritos lancinantes, VOCÊ que não tá acostumado a ouvir bandas mais lentas que Angra, VOCÊ PRECISA DESTE ARTIGO! Você precisa conhecer as suas raízes, saber das suas origens e respeitar os mais velhos!
Falando nisso, vale a pena fazer um glossário, caso alguém não saiba o que certos estilos ou expressões querem dizer.
- Rock Psicodélico: quando a banda de Rock clássico tem timbres agudos e vibrantes, com notas geralmente alongadas e contínuas, além de distorcidas. A banda fica mais psicodélica ainda quando usa e reproduz sons e efeitos mais inconvencionais e experimentais.
- Space Rock: quando a banda de Rock clássico investe demais nesses sons e efeitos malucos e experimentais. Algumas delas até resolvem apelar pra efeitos sonoros que lembram filmes de ficção científica. O que faz o "Space" do "Space Rock" fazer ainda mais sentido.
- Stoner Rock: quando a banda de Rock clássico tem som mais cadenciado (mais grave) e ritmo mais desacelerado. Geralmente tem um vocalista de timbre mais grave.
- Groove: De forma bem ignorante e direta, é o som marcante e potente do baixo, que marca e reverbera na música.
"Groove" também pode ser usado como sinônimo pra "vibe", "feeling", "clima", "levada", "pegada". Mas não este autor nem gosta desse termo, então ele vai usar bem raramente.
Retrô 2016: Gems
Banda: Blues Pills
Álbum: Lady In Gold
Estilo: Soul Rock
Uma das maiores revelações dos últimos anos, o sueco Blues Pills estreou seu disco homônimo em 2014 e foi um sucesso absoluto de crítica e público, recebendo elogios pela sua sonoridade calcada no Blues e pela admirável performance da vocalista Elin Larsson e pela habilidade do guitarrista Dorian Sorriaux. Se quiser saber mais, tome aqui a resenha que este autor fez ano passado sobre a banda. Agora em "Lady In Gold", em vez de continuar tocando Blues Rock, ela calca sua sonoridade no Soul, compondo um álbum super bem-produzido e cheio de profissionalismo. Essa mudança tem um lado positivo e negativo: o negativo, é que o Blus Pills não registra aqui a espontaneidade e organicidade que a consagrou no primeiro álbum, o que com certeza vai afastar os ouvintes que mais se apegaram à sua simplicidade e carisma naturais. O lado positivo, é que a banda mostra versatilidade e bastante coragem ao mostrar que pode experimentar e tocar o que quiser, sem perder o talento - e sem se amarrar à obrigação de cumprir expectativas. Tudo é uma questão de se adaptar ao estilo único do disco, às suas composições diferenciadas, aos coros, ao tecladinho, etc. Se não conseguir fazer isso, vai achar "Lady In Gold" enfadonho e cheio de excessos. Mas se conseguir, vai poder apreciá-lo como uma obra brilhante e cheia de estética, se divertindo com os pontos altos do disco, que são "Little Boy Preacher", "Bad Talkers", "You Gotta Try" e "Elements and Things", sem contar a dobradinha emocionante e melódica de "I Felt a Change" e "Gone So Long". Além, é claro, da faixa-título que abre o disco com pompa e apresenta o tom adotado pela banda. "Lady In Gold" é pegar ou largar.
Faixas:
01. Lady in Gold
02. Little Boy Preacher
03. Burned Out
04. I Felt a Change
05. Gone So Long
06. Bad Talkers
07. You Gotta Try
08. Won't Go Back
09. Rejection
10. Elements and Things
Banda: Blackberry Smoke
Álbum: Like An Arrow
Estilo: Southern/Country Rock
Desde 2000, o Blackberry Smoke se empenha em tocar um Rock caipira de alto nível. E este álbum mantém essa tradição, apresentando canções despretensiosas e divertidas, graças ao instrumental inspirado e ao vocal carismático que faz a gente cantar junto os refrões, como nas canções "Sunrise In Texas", "Ain’t Gonna Wait" e a faixa título. Outros destaques são "Let It Burn" e "What Comes Naturally" que são divertimento puro, "Waiting For The Thunder" que é a mais pesada e com pegada, e "Believe You Me" que flerta com o Funk (não o Carioca, pelamor) e é simplesmente um show. Tem também a "The Good Life", que é melódica e suave, e representa bem aquela imagem que criamos do caipira pai passando conselhos da vida ao caipira filho. Enfim, a banda se sai bem em todas as frentes, fazendo de "Like An Arrow" um álbum que vale a pena ser apreciado enquanto deitamos na rede e admiramos as nuvens passando lá em cima, como um legítimo capiau de bem com a vida.
Faixas:
01. Waiting for the Thunder
02. Let It Burn
03. The Good Life
04. What Comes Naturally
05. Running Through Time
06. Like an Arrow
07. Ought to Know
08. Sunrise in Texas
09. Ain’t Gonna Wait
10. Workin’ for a Workin’ Man
11. Believe You Me
12. Free on the Wing (part. Gregg Allman)
Banda: Ulysses
Álbum: Law and Order
Estilo: Rock and Roll com certos experimentalismos
Diferentemente de todas as bandas dessa lista que se inspiraram na sonoridade vintage e a psicodelia ácida, este terceiro álbum do quarteto britânico Ulysses realiza a deliciosíssima união entre aquela sonoridade retrô de estética alegre e ingênua (mais presente nos grupos de Surf Music), ao Rock mais pesado e de atitude de bandas de 70, como Sweet, Slade e Humble Pie. E pra completar, também tem vocalistas que transmitem a mesma vibe dos Beatles! O resultado dessa proposta são 12 músicas extremamente viciantes e agradáveis que te divertem pra valer e te fazem ficar sorridente de bochechas vermelhas, que nem as pessoas das propagandas antigas. E tem mais um detalhe aí: é visível que a banda já acumulou certa experiência e consistência, então ela sempre insere elementos que incrementam ainda mais as músicas, dando a cada uma delas um toque especial. As escolhas que ela faz pra cada uma são muito intrigantes. Elas podem ser bem simples e divertidas como "Law and Order" até cheias de nuances e experimentações, como "Song That Has To Be Sung". Mas absolutamente TODAS as músicas são boas e cativantes, é só escolher qualquer uma aleatoriamente, vamos lá. "Smiling"? Te faz mexer a cabeça de forma ritmada de um lado pro outro ou de cima pra baixo do começo ao fim. "Dirty Weekend"? Te faz se sentir de férias na praia (com roupa de banho listrada) e terminando o dia na farra de forma "dirty". "Typical Scorpio"?
Faixas:
01. Law and Order
02. Smiling
03. Lady
04. Crazy Horses Ride the Snake
05. Dirty Weekend
06. Mary Jane
07. Song That Has to Be Sung
08. Typical Scorpio
09. Come on This City’s Gone
10. Yellow Sunshine #1
11. Yellow Sunshine #2
12. How Long?